Levi Torres Madeira

 Oftalmologista e Escritor de Poemas em Cordel

Textos



AUTOBIOGRAFIA EM CORDEL
1ª parte

ILUSTRE AMIGO(A),
Convido-te a ler este poema que publiquei no meu site do escritor: AUTOBIOGRAFIA EM CORDEL – Levi Madeira. Um menino que nasceu e trabalhava na roça... Mas tinha um sonho! Acompanhe este sonho lendo este cordel!

Esta biografia está composta de 4 partes, ao final da I parte tem um link que dará acesso à II parte e no final desta outro link que dará acesso à III parte e no final desta o link que dará acesso à parte IV!

 
Um abraço, Levi Madeira
 


Minha autobiografia
Neste cordel vou narrar
Em versos descreverei
Pra melhor memorizar
E na terceira pessoa
Eu irei biografar
 
=1963=
 
No dia cinco de abril
O final da gestação
Nasce o menino Levi
No interior do Maranhão
Felizes seus pais ficaram
E foi ele o quinto irmão
 
O bebê vivia mamando
Com prazer a mãe deixava
Se parava de mamar
A chupeta a mãe lhe dava
Quando um porco a devorou        
Quase o mundo se acabava

 Levi Madeira - 4 meses de idade
(Quando um porco devorou sua chupeta quase o mundo se acabava)

Foi assim ele crescendo
Já não era mais bebê
Um menino foi surgindo
Não parava de crescer
Disto nunca se cansava
Brincar, pescar e correr
 
O lugar se chama Tanque
Interior do Maranhão
Um lugar muito tranqüilo
Lá no meio do sertão
Tinha pássaros, riachos

O lindo corrupião

Tinha instinto explorador
E pelas matas andava
Por lá fazia gaiolas
E com cipó amarrava
E peixes em águas limpas
Lá num igarapé pescava

 
Elizabeth é sua mãe
Muito bem dele cuidou
Luis Madeira é o pai
Que na terra labutou
Trabalhou de sol a sol
A seus filhos educou
 
Levi não é filho único
Primeiro, Sebastião
Dinária, Aparecida e
Terezinha também são
Tem Irismar e Luiz
Uma grande geração
 
Aos cinco anos foi pra escola
Com caderno e merendeira
Elizabeth empurrando
Só pensava em brincadeira
Fazer o dever de casa
Era aquela choradeira
 
Com o início dos estudos
Sua visão foi clareando
As letras foi aprendendo
Os números já contando
Aprendeu a ver as horas
E de estudar foi gostando
 
Cada dia um progresso
Logo já sabia ler
Tudo na frente ia lendo
Numa ânsia de aprender
Foi a professora Edna
Quem lhe deu este prazer
 
Levi não foi mau menino
Seu pecado era brincar
Se alguém pedia socorro
Não se negava ajudar
Imagine o que passou
Esta cena vou contar
 
E o que vou contar agora
Não foi imaginação
Realmente aconteceu
À beira de um riachão
Ele quase se afogou
E apanhou de cinturão
 
Um bonito igarapé
Águas claras a jorrar
Árvores muito frondosas
Vindo às margens sombrear
Mas um pé d’água chegou
E a tudo veio inundar
 
Garotas lá se banhavam
Era grande sua alegria
As roupas elas lavavam
E lá no arame estendiam
Foi então quando gritaram
A correnteza surgia
 
As roupas sendo arrastadas
E as garotas se afogando
Mas Levi pulou na água
A correnteza enfrentando
Sua vida pôs em perigo
E as garotas foi salvando
 
Chegando em casa cansado
O seu pai foi lhe chamando
Sem saber qual o motivo
Uma surra foi levando
Tanto apanhou o menino
Que a pele ficou sangrando
 
Elizabeth interveio
Para aquilo terminar
Até levou chicotada
Mas ao filho foi salvar
Só depois de muita surra
Veio a tortura acabar
 
Só muitos dias depois
Soube Levi a razão
A surra tão merecida
Foi por má reputação
Muito mal fez às garotas
Foi o que disse um peão
 
No dia da correnteza
Um peão por lá passou
Uma estória disse ao pai
Na mentira acreditou
Não quis ouvir ao seu filho
Ao garotinho espancou
 
E nem mesmo uma desculpa
Levi sequer recebeu
Apanhou injustamente
Coração muito doeu
Recebeu foi punição
Pelo bem que promoveu
 
Deixemos isso pra lá
Muito tempo já passou
E Luis foi um bom pai
Levi já até perdoou
O seu plano era estudar
E nos estudos focou
 
Foi crescendo e estudando
E nos livros mergulhou
Ser médico era seu sonho
E este sonho alimentou
Colegas até zombavam
Mas Levi acreditou
 
E quando vinha da escola
A seu pai sempre ajudava
Para a roça ele seguia
E coricas espantava
Pois o roçado de milho
A corica devorava
 
O seu pai sempre fazia
A produção de carvão
Pra evitar fogo na lenha
Dava espécie de plantão
De madrugada seguia
Com Levi e seu irmão
 
Pra chegar lá na fornalha
Num cemitério passava
Sempre se desconfiou
Por medo sim os levava
Pois pra ver se havia fogo
Só de um adulto bastava
 
Surgindo a barra do dia
Logo seu pai lhe acordava
Com ele tirava o leite
E aos bezerros separava
Bujão de leite no ombro
Pra casa assim retornava
 
Uma vez chegou visita
Num cavalo já rinchando
O animal era tão grande
E com fome foi chegando
Leve ao pasto disse o pai
No gigante foi montando
 
Mas muito se arrependeu
Pois saiu em disparada
Muito longe o derrubou
Dentro da mata fechada
Voltou pra casa sangrando
E a perna quase quebrada
 

 1974 – Levi com 11 anos (à direita) juntamente com seus irmãos menores Luiz Filho e Irismar e o pai Luis Madeira – trabalhando na roça.

 
Levi queria outra vida
A roça não lhe bastava
Mergulhava nos estudos
Em ser médico sonhava
Mudou-se pra Imperatriz
E noite a dentro estudava

Mesmo sendo adolescente
Estudava e trabalhava
E numa serralheria
Ferro cortava e soldava
E depois pintava a peça
O acabamento lhe dava

1977 – Levi com 14 anos (à direita) juntamente com vários colegas de trabalho na  então serralheria "Armações Imperatriz" – estudava a noite e trabalhava durante o dia
 
O Tico é o seu cunhado
Que disse ao Sebastião
O Levi faz corpo mole
Pra lavar meu caminhão
Só quer mesmo é estudar
Que fazer com seu irmão
 
Parabéns meu bom rapaz
Foi o que disse o irmão
Não há caminho melhor
Vá fundo na educação
Eu fico muito feliz
Vendo a sua vocação
 
Nem imagina você
Tamanha motivação
Que injetou em Levi
Seu irmão Sebastião
Mostrando-lhe ser possível
Salvou-lhe de ser peão
 
=1979=
 
Concluída a oitava série
Levi foi pra Fortaleza
Um menino de quinze anos
Grande foi esta proeza
Muito longe da família
E sem nenhuma riqueza

 1978 – Levi Madeira com 15 anos (à esquerda) juntamente com seus dois irmãos menores (Luiz Antônio Madeira Filho e Irismar) antes de se mudar para Fortaleza
 

Ao chegar em Fortaleza
Foi pra Casa do Estudante
Um mero desconhecido
Sem nenhum acompanhante
Instalou-se em um quartinho
Num calor agonizante
 
Muito jovem e distante
Sem nenhuma experiência
Nem rede sabia armar
Na sua pura adolescência
Mas teve que se virar
Era a sua sobrevivência
 
Qual era o melhor colégio
Foi procurar se informar
Farias Brito disseram
Mas não vai poder pagar
Levi não se intimidou
Foi um plano elaborar
 
Quando foi no outro dia
Pro colégio disparou
Foi chegando de mansinho
E à secretária abordou
Pediu pra falar com o chefe
A secretária negou
 
Depois de muito insistir
Ela foi ao diretor
Lá fora tem um rapaz
Quer falar com o senhor
Não quis dizer o assunto
O que faço seu doutor
 
Depois de muito esperar
O diretor lhe chamou
Bem humilde foi entrando
E logo se desculpou
Eu tenho um sonho comigo
Escute-me, por favor.
 
Armando ficou olhando
Bem nos olhos do rapaz
E pensou por um instante
Sendo muito perspicaz
E falou com paciência
Conte a que veio rapaz
 
Levi disse ao diretor
Ter vindo do Maranhão
Tinha pai agricultor
Dinheiro não tinha não
Sendo a Casa do Estudante
Sua nova habitação
 
Disse ainda ao diretor
Que fez uma argüição
A muitos fez a pergunta
Qual a melhor fundação
Farias Brito disseram
É o melhor da região
 
Desde criancinha Armando
Eu não paro de sonhar
Ser médico é o meu sonho
Em real quero tornar
Se acreditares também
Muito podes me ajudar
 
Armando deu um sorriso
E o que posso lhe fazer
Uma bolsa de estudos
Se puderes conceder
E o que fez o diretor
Levi não vai esquecer
 
A emoção foi muito grande
Foi muita felicidade
Agradeceu ao Armando
Nunca viu tanta bondade
Efetuou sua matrícula
Foi conhecer a cidade
 
O seu estudo era intenso
Não tinha tempo a perder
Com os pés num balde d’água
Para não adormecer
Dia e noite a estudar
Maratona pra valer
 
Teve que estudar de tudo
Da história à geografia
A física e português
Química e biologia
Matemática e redação
E também geometria
 
Matemática estudava
Com prazer e atenção
Geometria captava
E resolvia equação
Se envolveu de corpo e alma
Em verdadeira imersão
 
E a Casa do Estudante
Foi a sua moradia
Lá na Nogueira Acioly
Comida ali não havia
Cada um lá se virava
E tripa se contorcia

1980 - Levi Madeira na Casa do Estudante do Ceará

Certo dia alguns políticos
Estiveram visitando
Bem no dia do estudante
Uma bolsa sorteando
Era um curso de inglês
Levi ficou suspirando
 
Aquele curso de inglês
Foi o Maia quem ganhou
Levi ficou meditando
Pela bolsa suspirou
O Maia foi tão gentil
E aquela bolsa passou
 
Transferiu esse tesouro
Do IBEU não precisava
Pois na Cultura Britânica
O rapaz já estudava
Um anjo que apareceu
Que ao Levi ajudava

A menor nota era oito
Pra bolsa não escapar
Agradecendo ao amigo
No IBEU foi estudar
Com certeza no futuro
Ia muito precisar

 
O primeiro e segundo anos
No Farias estudou
O terceiro científico
No cearense embarcou
Conseguiu também a bolsa
Nas notas se destacou

Tinha a dona Marieta
Um poço de simpatia
Uma vez a cada mês
A Levi convidaria
Em seu lar ir almoçar
Disto nunca esqueceria

 
=1982=
 
Finalmente o grande dia
O vestibular chegou
No dia da inscrição
Levi jamais vacilou
A opção pra medicina
Ali na bucha marcou
 
Medicina em Fortaleza
Particular não havia
Somente na Federal (UFC )
No Ceará existia
Apenas setenta vagas
Imagine a agonia
 
Estava bem preparado
Estudou o iluminismo
Procurou se concentrar
E esquecer o nervosismo
Seleção vence o melhor
Já dizia o darwinismo
 
Era tanta gente inscrita
Que o pátio todo lotou
Foram quatro dias de provas
Muita gente ali dançou
A tensão foi muito grande
E finalmente acabou
 
Vestibular anulado
Logo após o seu final
Pois houve fraude alegaram
A anulação foi geral
Um mês após fez de novo
Com segurança total
 
Vinte dias se passaram
E o resultado chegou
Sensação de flutuar
O seu nome lá constou
No curso de medicina
Levi Madeira ingressou

O cordel não terminou
Por aqui não vá parar
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Poderá continuar
Mais história está por vir
Por você vou esperar


CONTINUE NA PARTE II...clicando aqui: https://levimadeira.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=3507376


 
 
14 de Fevereiro de 1982 - Jornal O POVO divulga a relação dos aprovados no vestibular da Universidade Federal do Ceará - Na foto o anúncio dos aprovados no curso de medicina - Levi Torres Madeira - 33º lugar (total 70 vagas)


  1982 – Levi Madeira com 18 anos (de braços abertos) é aprovado no vestibular de medicina na Universidade Federal do Ceará em 33º lugar de um total de 70 vagas e concorrendo com 3500 concorrentes. Nesta foto, ia passando em uma rua de Fortaleza quando uma amiga lhe encontra e portando uma máquina fotográfica lhe disse: Levi comemore! então Levi abre seus braços e dá um gostoso sorriso!!!



 
Levi Madeira
Enviado por Levi Madeira em 19/02/2012
Alterado em 24/04/2021


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