Levi Torres Madeira

 Oftalmologista e Escritor de Poemas em Cordel

Textos


DESTRAMBELHADO CASAMENTO

Há muitos anos atrás
Bem no meio do sertão
Houve lá um vira e mexe
Que merece explicação
É o que vou te contar
Se é verdade eu num sei não
 
Uma moça era Gertrude
E Mané sua paixão
E a outra era Zefinha
Interessada em Zecão
O namoro era
 escondido
Pois não tinha aprovação
 
As gurias bem bonitas
Mas o pai um valentão
Não queria suas filhas
Se casando com peão
Jurava matar o cabra
Que tivesse a pretensão
 
Os rapazes muito simples
Labutavam com o chão
Preparavam sua terra
Com a enxada e facão
Cultivar a sua roça
Era a sua ocupação
 
Zefinha era a mais nova
Tinha grande formosura
E Gertrude era a mais velha
E bem feita de cintura
Mas o medo os assombrava
Terminar na sepultura
 
Namoravam às escondidas
Sem ninguém desconfiar
Bolaram então um plano
Pra fugir e se casar
Moravam no interior
Cinco léguas do lugar
  
Muito raro eles se viam
Tinham muita precaução
Pois se o pai aparecesse
Com espingarda e facão
Acabaria com o Mané
E sumiria com o Zecão
 
As irmãs apaixonadas
Moravam no Riachão
5 léguas dali ficavam
Seu Mané e seu Zecão
E para lá se dirigiam
Montando um alazão
 
Cada um com seu cavalo
Na igreja se encontravam
Misturados a muita gente
Nem sequer desconfiavam
A paixão era ardente
Escondidos namoravam
  
Bolaram então um plano
Não iriam desistir
O pai na sua carranca
Não iria consentir
A mãe não aprovava
E o jeito era fugir
 
E no Domingo seguinte
Os quatro concordariam
O pai faria uma viagem
A chance não perderiam
Após a missa da noite
As garotas roubariam
 
No dia justo marcado
Cada um num alazão
Cavalgaram pra cidade
Sentido de Riachão
Dois amigos escoltavam
É prudente a prevenção
  
Não sabiam os coitados
Que o pai não viajou
Nas últimas horas do dia
A viagem cancelou
Aflição das duas filhas
E tudo se complicou
 
No tempo do ocorrido
Telefone não existia
Celular nem se falava
Só de radio se ouvia
Não tinha como avisar
Coração forte batia
 
O pai foi logo avisando
Que na missa ninguém ia
Parece que adivinhara
E o plano dissolvia
Os moços já chegaram
As garotas ninguém via
  
Ao terminar aquela missa
Não sabiam o que pensar
Se teriam desistido
Desistido de casar
Resolveram ir a casa
E as garotas roubar
 
Deixaram pra madrugada
Quando lá apareceram
Deram um toque na janela
E as moças atenderam
Com muita pressa fugiram
Seus pais nem perceberam
 
Muito rápido dali saíram
Bem depressa cavalgando
A lua estava cheia
A estrada iluminando
Os quatro noivos alegres
Os dois amigos escoltando
 
Cavalgaram a noite toda
E só bem cedo eles chegaram
Foram para outra cidade
E no cartório se casaram
Assinaram os papéis
E logo então se beijaram
 
A casa se tremeu toda
Quando foi no outro dia
As filhas pra onde foram
Perguntou ninguém sabia
Pegando sua espingarda
As pegadas ele seguia
 
Pergunta aqui e acolá
Foi colhendo informação
Seguiu aquele caminho
Na certeira direção
Espumava tanto raiva
Segurava seu facão
  
Quando chegou na cidade
Onde houve o casamento
Procurou se informar
Planejando seu intento
Foi direto para a festa
Que faziam no momento
 
Meu senhor acredite
O homem avermelhou
Gritou bem alto e disse
Brincando aqui não estou
Apontando pra Mané
A arma então disparou
 
Mané no chão foi caindo
Gertrude se apavorando
Zecão foi logo acudindo
E a arma lhe apontando
A polícia então chegou
Ao valentão foi levando
  
Mané foi pro hospital
Só levou uma sutura
O ferimento foi leve
Foi de raspão na cintura
O valentão estava preso
Baixou a temperatura
 
Saindo do hospital
Foram pra delegacia
Na sala do delegado
Harmonia não existia
O pai queria brigar
Delegado não permitia
 
Seu João da espingarda
Vamos logo resolver
Não pode matar os genros
Isto é se embrutecer
Ficará preso 30 anos
Se isto vir acontecer
  
Olhou então para as filhas
Começando a chorar
Um abraço apertado
Em cada uma foi dar
Alertando aos seus genros
Passou então a falar
 
Não quero aqui ficar preso
Aqui não é meu lugar
Mas eu ficarei de olho
De mim não vão escapar
Se maltratarem minhas filhas
A cada um eu vou matar
 
Todos estavam felizes
Voltaram pra Riachão
O sogro fez uma festa
Tinha arroz e pimentão
Muita carne e cerveja
E tinha até camarão
  
Os rapazes eram amigos
Montaram sociedade
Construíram uma fazenda
Bem pertinho da cidade
Tiveram filhos e filhas
E muita prosperidade
 
O sogro vendo os netos
Que brincavam ali no chão
Os genros enriqueceram
E lhe davam atenção
Arrependeu-se do que fez
E mudou de opinião
 
Que fique como exemplo
O que importa é o interior
A ninguém vamos julgar
Cada um tem seu valor
Leva tempo e paciência
O desabrochar de uma flor

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O autor é Médico Oftalmologista
 
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Levi Madeira
Enviado por Levi Madeira em 24/07/2011
Alterado em 10/05/2015
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